O uso do QGIS e GRASS para modelação de corredores ecológicos para lobos no Norte de Portugal

O lobo-ibérico é uma sub-espécie do lobo-cinzento que existe apenas no Norte da Península Ibérica, com pequenas populações isoladas a Sul do Rio Douro. Durante o último século sofreu uma elevada regressão, estando actualmente classificada como “vulnerável” em Espanha e “em perigo” em Portugal. Hoje em dia existem apenas cerca de 300 lobos em Portugal, devido à elevada perseguição que têm sofrido, destruição e fragmentação dos habitats.

Área de estudo em Portugal

Área de estudo em Portugal

Ribeira de Pena é um Concelho que pertence ao Distrito de Vila Real, no Norte de Portugal. É um Município rural, caracterizado pela agricultura, pastoreio, floresta, montanhas, vales e a mais diversa fauna, juntamente com baixa densidade humana, o que em conjunto providenciam abrigo e comida para os lobos. Localizada entre as zonas montanhosas de Trás-os-Montes e o verde Minho, Ribeira de Pena é um dos Concelhos que pode funcionar como corredor ecológico entre as áreas com maiores densidades de lobo a Norte e as áreas com menor concentração a Sul.

Eu comecei a utilizar softwares SIG durante o meu curso de biologia, aprofundando conhecimentos durante o mestrado. Na altura utilizei maioritariamente programas proprietários, cujo acesso perdi após ter terminado o mestrado.

Entretanto tive o meu primeiro contacto com os sistemas operativos Linux. E logo depois fui contactada para ajudar uns investigadores na modelação de corredores ecológicos para lobos em Ribeira de Pena, utilizando SIG. O meu primeiro problema prendeu-se com a escolha do programa a utilizar, visto que já tinha substituído o sistema operativo para Linux. Foi na altura em que ouvi falar no QGIS e decidi experimentar, sendo que me parecia um programa muito simplista e incompleto, quando comparado ao que eu já conhecia. Depressa percebi que estava errada, e fiquei bastante entusiasmada com as capacidades analíticas que o QGIS oferecia, especialmente quando integrado com o GRASS.

Para modelar os corredores ecológicos, usámos o QGIS com o módulo GRASS. Usámos muita informação geográfica juntamente com dados de avistamentos de espécies para modelar os corredores ecológicos. Aqui estão algumas funções do QGIS e GRASS que usámos neste caso, apenas nomeando alguns:

  • módulo de Interpolação no QGIS: para criar o Modelo Digital do Terreno

  • r.watershed no GRASS: para criar as linhas de água do MDT

  • r.grow.distance no GRASS: gera um mapa raster de distância para os elementos da camada de entrada

  • r.reclass no GRASS: para reclassificar as camadas do mapa

  • r.slope.aspect.slope no GRASS: para calcular o declive a partir do MDT

  • r.mapcalculator no GRASS: para calcular alguma algebra simples de mapas

  • r.cost.coord no GRASS: crua um mapa raster exibindo o custo cumulativo de mudanças entre diferentes localizações geográficas no mapa raster de entrada onde os valores das suas células representam o custo

  • r.drain no GRASS: Traça o fluxo pelo modelo de elevação num mapa raster –– o que é usado para criar os corredores

Com este trabalho obtivemos um mapa com zonas potenciais a corredores ecológicos para lobos no município da Ribeira da Pena. Estas áreas deverão ser consideras pela técnicos municipais aquando do planeamento de medidas de conservação para estas espécies. estes corredores são de extrema importância porque podem ligar as frágeis alcateias de lobos do sul com o norte de Vila Real, que são contínuos com os que vêm da Peneda-Gerês e Espanha onde são mais estáveis. É de extrema importância estes corredores que cruzam áreas sociais, como pequenas aldeias, cidades e rede viária. Estas áreas devem ser consideradas críticas para conservação do lobo, e aplicar medidas para reduzir o impacto humano nestas espécies.

Ecological corridors and critical conservation areas for wolves

Corredores Ecológicos e áreas críticas de conservação para lobos no Norte de Portugal.

Conclusão

Tanto o QGIS como o GRASS são programas bastante intuitivos com uma interface simples e fácil de utilizar. Possuem todas as funções para realizar a maior parte das análises. Do meu ponto de vista, tanto um como o outro têm um desempenho tão bom como os programas proprietários a que estava habituada a utilizar. Possuem ainda a vantagem de serem programas de livre acesso, podendo ser utilizados em qualquer computador sem a necessidade de licenças, com actualizações constantes e em último caso, a possibilidade de contactar com os programadores para contribuir para o seu melhoramento.

Mudar de sistema operativo para Linux e posteriormente para o QGIS e GRASS foi uma das minhas melhores decisões. Apesar de poderem haver ainda algumas questões por resolver, facilmente resolvidas no futuro com os programadores, não me arrependo da minha decisão e aconselho toda a gente a utilizá-los.

Autor

Área de estudo em Portugal

Monica Almeida

Este artigo foi contribuído em Julho de 2012 pela Mónica Almeida. Ela é uma bióloga de conservação que trabalha numa organização não governamental de preservação do lobo em Portugal.