Utilizando ferramentas de código aberto para a caraterização de uma paisagem. O plug-in LecoS

Este trabalho resulta de parte do projeto final da Pós-Graduação Executiva em Sistemas de Informação Geográfica lecionado pela Geopoint. Propôs-se estudar uma paisagem para usar o módulo Landscape Ecology (LecoS) no Qgis 2.01 Dufour. A área de estudo é o Concelho de Coimbra, com uma área total de aproximadamente 31940ha, situada na região Centro de Portugal, com coordenadas geográficas 40°12’11.84”Norte e 8°24’37.15” Oeste. Atualmente dividida em 18 freguesias por força da nova reorganização administrativa, sendo estas maioritariamente de cariz urbano (Figura 1).

Localização Geográfica do concelho de Coimbra.

Localização Geográfica do concelho de Coimbra.

A caracterização de uma paisagem é levada a cabo usando índices quantitativos designados por métricas da paisagem. Estes índices são depois utilizados para descrever as características estruturais da paisagem, para documentar a mudança ou a sua relação com a ocorrência de várias espécies ou grupo de espécies (Turner et al., 2001; Olsen et al., 2007; Fidalgo et al., 2009). O número de métricas é enorme, podendo ser calculado ao nível da paisagem, da classe e da mancha (Turner et al., 2001; Fidalgo et al., 2009). As métricas podem ser calculadas a partir da Corine Land Cover, da Carta de Ocupação do solo (COS 90 e COS2006) ou de mapas de Uso/Ocupação do solo por nós produzidas. Segundo Martin Jung (2012), o Landscape Ecology Stistics (LecoS) é um módulo do Qgis que serve para calcular métricas da paisagem em camadas raster. O resultado pode ficar disponível em formato CSV.

Métodos

Para calcular as métricas da paisagem utilizaram-se as coberturas da Corine Land Cover (CLC) dos anos 1990 e 2006. Para o efeito houve a necessidade de transformar as coberturas em formato raster com tamanho de célula 50x50 metros através da ferramenta r.to.raster do módulo GRASS GIS das ferramentas de processamento, tendo em conta a classificação do nível 1 da Corine Land Cover e posteriormente utilizou-se o módulo Ecologia da Paisagem (LecoS) do QGIS usando o modelador gráfico (Figura 2).

Métricas de paisagem calculadas para diferentes anos (1990 e 2006).

Métricas de paisagem calculadas para diferentes anos (1990 e 2006).

As métricas calculadas foram a Área de cada uso do solo (Land Cover), a Proporção que cada uso tem na paisagem (Landscape Proportion), a densidade de orlas (Edge density), Número de manchas (Number of Patches), Área da mancha maior, Área da mancha mais pequena, distância média entre manchas (Mean patch distance) e o tamanho efetivo da malha (effective meshsize) (Tabela 1). Quanto às medidas de diversidade da paisagem calculadas foram o índice de Shannon, Uniformidade e o Índice de Simpson.

Resultados

Da análise efetuada às métricas da paisagem calculadas constata-se que houve um aumento do grau de antropização e por consequência uma maior fragmentação de usos entre 1990 e 2006. O número de manchas de Florestas e meios naturais e semi-naturais e as Áreas Agrícolas e Agro-Florestais diminuíram entre 1990 e 2006 (Tabela 1). Esta métrica pode dar-nos indicações sobre alguns processos ecológicos incrementando ou diminuindo relações entre populações e habitats (Viana e Aranha, 2008).

Modelo para calcular as métricas de paisagem em 1990.

Modelo para calcular as métricas de paisagem em 1990.

De 1990 para 2006 aumentou a diversidade, no entanto sabe-se que este resultado está diretamente relacionado com a transferência entre os usos, nomeadamente a perda de áreas «Agrícolas» e «Agro-Florestais, Florestas e meios naturais e semi-naturais». O mesmo aconteceu com a Uniformidade.

Conclusão

Foi possível determinar as métricas da paisagem recorrendo ao módulo LecoS constatando-se que a área de estudo apresenta problemas de fragmentação devido ao elevado grau de antropização. O QGIS revelou-se bastante intuitivo e muito prático no cálculo das métricas da paisagem não existindo qualquer tipo de constrangimento. É de facto uma solução robusta e viável comparativamente com os softwares proprietário. No futuro pretende-se aplicar este método a áreas que tenham problemas com espécies invasoras para estudar o seu comportamento na paisagem.

Referências

  • Fidalgo, B., R. Salas, et al. (2009). «Estimation of plant diversity in a forested mosaic landscape: the role of landscape, habitat and patch features.» Revista Latinoamericana de Recursos Naturales 5 (2): 65-73.

  • Viana, Hélder; Aranha, José (2008) - Estudo da alteração da cobertura do solo no Parque Nacional da Peneda Gerês (1995 e 2007). Análise temporal dos padrões espaciais e avaliação quantitativa da estrutura da paisagem. X Encontro de Utilizadores de Sistemas de Informação Geográfica, 14 a 16 de Maio de 2008 – Oeiras.

  • Martin Jung (2012) LecoS - A QGIS plugin to conduct landscape ecology statistics, http://plugins.qgis.org/plugins/LecoS.

  • Olsen, L., V. Dale, et al. (2007). «Landscape patterns as indicators of ecological change at Fort Benning, Georgia, USA.» Landscape and urban planning 79: 137-149.

  • Turner, M. G., R. Gardner, et al. (2001). Landscape ecology in theory and practice: pattern and process. New York.

Autores

André Duarte

André Duarte

Este artigo foi contribuído pelo André Duarte em Julho de 2014. Ele tem uma Licenciatura e Mestrado em Engenharia de Recursos Florestais da Escola Superior Agrária de Coimbra. é Pós-Graduado em Sistemas de Informação Geográfica pela Geopoint. Atualmente é colaborador do Grupo Portucel Soporcel.