QGIS e GRASS aplicados à gestão paleontológica na costa Oeste de Portugal

A Sociedade de História Natural (ALT-SHN) é uma organização sem fins lucrativos especializada em paleontologia e sediada em Torres Vedras, Portugal. Esta instituição gere uma grande colecção de fósseis maioritariamente do Jurássico Superior. Um dos aspectos fundamentais da gestão paleontológica é compreender o contexto espacial de onde os fósseis foram retirados – centenas de sítios representando milhares de espécimenes diferentes.

O Projeto

Em 2008 decidimos explorar tecnologia SIG como suporte à investigação de modo a obter uma perspectiva mais abrangente do património com que se estava a lidar. Este deu origem ao Projecto SIGAP (SIG aplicado à Paleontologia) [2]. O projecto, apoiado por entidades privadas e públicas, com destaque para o o Município de Torres Vedras, Digiterra.hu e o Instituto Geográfico do Exército (IGeoE), tinha três objectivos fundamentais:

  • Levantamentos de campo com recurso a GPS diferencial de modo a recolher as coordenadas dos sítios;

  • Construir um modelo de risco para identificar ameaças ao património paleontológico;

  • Montar uma base de dados para gerir toda esta informação e posteriormente iniciar a inventariação da colecção.

Software utilizado

O QGIS foi a plataforma central de todo projecto. Os dados de campo eram descarregados directamente no QGIS e posteriormente editados e manipulados de modo a obter a informação final. A interface GRASS providenciada pelo QGIS permitiu-nos levar a cabo análises espaciais complexas sobre rasters e assim obter o modelo de risco que necessitávamos para planear futuramente o trabalho de campo. Além disso, QGIS também nos permitiu importar dados de uma base de dados PostGIS e visualizá-los no QGIS.

Edição e visualização da informação de pontos vectoriais

Edição e visualização da informação de pontos vectoriais

A escolha do QGIS foi encorajada pelo facto de estar disponível para várias plataformas. A instituição tem computadores Mac, e PC com Windows e Linux. Consequentemente, é extremamente importante que possamos ter a liberdade de instalar o software nas máquinas que desejarmos de modo a não ficarmos presos a um único computador.

Mapa de Risco Palentológico

Mapa de Risco Palentológico

Conclusão

No geral, a experiência com o QGIS apenas pode ser considerada como sendo muito boa e recomendável. Do nosso ponto de vista, a principal vantagem do QGIS é que não ser apenas um software SIG – é uma plataforma produtiva para dados espaciais. Permite-nos tirar partido de outras ferramentas poderosas sempre dentro de um único ambiente de análise. A partir do QGIS pode-se trabalhar com GRASS; PostGIS, dados GPS, Webservices e dezenas de complementos úteis desenvolvidos por usuários de todo o mundo. A interface amigável é também uma grande vantagem, principalmente se for necessário ensinar pessoas que nunca tiveram contacto com SIG, como nós o fizemos. A facilidade da interface fez da produção de mapas uma tarefa banal e aproximou as pessoas de abordagens espaciais [3].

Referências

  • [1] www.alt-shn.org (portuguese only)

  • [2] MANO, André. (2009) – Sistema de Informação Geográfica Aplicado à Paleontologia. Paleolusitana: Revista de Paleontologia e Paleoecologia, Torres Vedras: Alt-Sociedade de História Natural. ISSN 1647-2756, n.º 1, p. 245-250.

  • [3] Mano, André. (2010) – Projecto SIGAP, Trabalho de Projecto apresentado como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Ciência e Sistemas de Informação Geográfica. ISEGI – UNL, Lisboa, 2010

Autor

André Mano

André Mano

Este artigo foi contribuído em Novembro de 2010 pelo André Mano. Ele é responsável pelo Departamento Geográfico da Associação Leonel Trindade - Sociedade de História Natural. A sua área de interesse foca-se nas aplicações de geotecnologia nos campos de palentologia, arqueologia e heranças culturais.